Castelo de Montalegre
O PLANALTO DOS SONHOS
Antes, Montalegre era as batatas de semente e a carne
barrosã.
Depois veio o Padre Fontes, os congressos de medicina
popular, a feira do fumeiro, a sexta-treze, e um sem número de iniciativas que
chamam aos quatros cantos do Barroso as gentes da planície e do litoral.
Também se ouvia falar que era por estas bandas que
pontificavam as últimas práticas do comunitarismo ancestral em que os povos se
entre-ajudavam, dando a mão uns aos outros nos vários afazeres quotidianos: nas
vezeiras do gado, nos fornos comunitários, nos moinhos, nas conduções de água,
no contrabando e na passagem a salto para ir ganhar o pão para as minas do
Bierzo ou para a construção em terras de França, ou simplesmente para a fuga à
perseguição política ou à guerra colonial.
Hoje Montalegre é um fervilhar de actividade desde o renovar
das tradições até às mais recentes aventuras radicais pelas encostas das suas
penedias e pelos leitos, ora calmos, ora agrestes, dos seus rios.
O turismo floresce com casas renovadas, parques de campismo,
sinalética apropriada e acessibilidades adequadas às dificuldades dos caminhos
romanos ou ainda mais antigos.
Os da cidade, quando bate a saudade das alargadas vistas
salpicadas de verde e bruma e dos sons de Deus pela voz dos pássaros e pelos
que a brisa deixa nos ramos do arvoredo, sem esquecer os que escorrem pelas
fragas por onde passam os rios e os ribeiros às vezes caudalosos, botam-se para
as montanhas do Gerês e do Barroso a oxigenar o corpo e a alma, e é vê-los
contentes como os cucos, a percorrer barrocas, saltar riachos, parar
respeitosamente ao chilrear dos pássaros e a salivar à frente dos vários
fumeiros que vão encontrando. Às vezes entram numa taverna e extasiam-se
perante uma lasca de presunto, duas rodelas de salpicão, uma bucha de pão de
mistura e um copo de tinto, excepção saudável à coca-cola e hambúrguer das
cidades costeiras!
Por isso, Montalegre é hoje um destino incontornável para os
que ainda sentem o sangue celta a correr-lhes nas veias, carecido das velhas
emoções que a civilização ainda não conseguiu apagar. As montanhas enchem-se de
gente de todas as idades a fazer os percursos dos monumentos romanos, os das
sombras por baixo dos carvalhos onde os velhos druidas apaziguavam os deuses e
os das velhas gentes quando, à cata do pão, não evitavam monte ou vale por mais
inóspitos que fossem, com a foice na mão e no coração a prece ao deus Larouco
que ali instanciava em granito insculpido para os lados da Rousia, ou ao
Júpiter romano que o substituiu, e mais tarde a Nossa Senhora dos Galegos posta
numa pequena capela, para os lados da serra de Leiranco.
Ecomuseu de Barroso
Hoje, o Barroso, já tem o Eco-museu a recolher as antigas
tradições com os instrumentos das suas artes e ofícios.
Falta um museu de artes plásticas onde fiquem as emoções dos
artistas que por cá passam.
Quando os edis do concelho tivessem um momento de sossego no
seu imparável afã, que os tem atreitos aos permanentes projectos que levam o
nome de Montalegre até às cidades do litoral e do sul desta terra, seria tempo
de lançar mão de mais uma iniciativa que trouxesse anualmente os artistas
plásticos a estas terras de Barroso e do Gerês, num evento que passaria pela
atribuição de prémios de aquisição de obras, que, para já, poderiam ficar nos
vários polos do Eco-Museu do Barroso, até se encontrar um espaço próprio para
se instalar o Museu de Arte Contemporânea Barrosã.
Com partida e chegada a esse pólo aglutinador das artes
plásticas, assinadas por autores daquém e dalém fronteira, sairia um itinerário
de caminhadas ao longo do qual se instalariam esculturas de material
imperecível, que transmitissem aos caminheiros as mensagens que os artistas
tivessem deixado nas suas obras.
Original, esta iniciativa? Não. Um pouco por toda a parte,
pela Europa em particular, vêm-se aldeias e vilas transformadas em museus a céu
aberto.
Atelier em Barbizon
Em Barbizon, na esteira de Théodore Rousseau e de
Jean-François Millet, desenvolveu-se uma escola de pintura que faz hoje das
suas ruas galerias de arte abertas de manhã à noite, com ateliers instalados
nas pequenas casas que bordejam os seus caminhos, casas essas cedidas por
concurso público a artistas de todo o mundo, por maiores ou menores temporadas.
E os turistas que vão de Paris visitar Fontainebleau, nunca deixam de parar
nesta cidade-museu, que lhes fica a meio-caminho.
Valle de los Sueños, em Puebla de la Sierra
A Puebla de la Sierra chega-se partindo de Madrid pela A1,
na direcção de Burgos, podendo-se fazer um desvio a partir da saída 57, para se
ir à Serra de Valdemanco, dar uma olhada à Fundação Berruti, que ocupa o coruto
do monte onde Luis Berruti tem instalado o seu atelier de escultura e pintura à
volta do qual se espalha um museu ao ar livre com as suas obras.
Fundação Berruti na Serra de Valdemanco
Tornados à A1, sai-se logo à frente para Puebla de la
Sierra, num percurso que não chega aos cem quilómetros desde Madrid, onde o artista
plástico Federico Eguia – que empresta o valimento da sua arte a este evento
Arte na Raia, nele expondo uma de suas obras – fundou, em finais dos anos
noventa, um museu de escultura a céu aberto, semeando obras de arte ao redor da
povoação, ao longo de caminhos que propiciam aos apreciadores umas caminhadas
pela natureza e pela cultura numa amálgama perfeita de beleza e satisfação
física e intelectual.
Fica a sugestão!
Apresentamos hoje 75 obras de 75 artistas plásticos oriundos
deste e do outro lado da fronteira.
É a terceira vez que vimos a este planalto colaborar com o
Eco-museu de Barroso e a Câmara Municipal de Montalegre para acrescentar à
beleza desta terra, a beleza das artes plásticas.
Esperamos que a abertura às artes continue a merecer a atenção
dos edis de Montalegre e a boa vontade das pessoas e das instituições que
tornaram possível este evento.
Agostinho Costa
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